Desejo

Desejo

Às vezes, a vida nos conduz por caminhos intensos, onde a alma e o corpo se entrelaçam em um ciclo de culpa e prazer. O peso de nossas escolhas, os impulsos que nos movem e a busca por redenção são uma dança constante entre o pecado e o sagrado. 

Um momento de introspecção profunda, onde o silêncio é preenchido pelo eco dos próprios pensamentos. É quando você fecha os olhos e se entrega à comunhão consigo mesmo. A língua tropeça, como se as palavras fossem insuficientes para descrever a complexidade do que se passa dentro de você. O corpo pede redenção, mas o desejo é inescapável.

Os lábios, símbolos do toque e da palavra, são agora o “pão do corpo”, a carne que carrega a história de nossos erros e acertos. E ao saborear esse instante, o paladar se torna a porta de entrada para o perdão. No entanto, o perdão não vem sem uma penitência: é preciso lamber a alma, chupar os pecados incrustados no corpo e se ajoelhar, não em submissão, mas em entrega.

O paraíso aqui não é celestial. Ele está nas profundezas do prazer, na aceitação de que o gozo é divino, que o pecado é apenas uma construção de uma vida que nos ensinou a temer o desejo. Quando os joelhos tocam o chão, não é para pedir perdão, mas para transcender.

O gozo é idolatrado porque é a expressão máxima de nossa humanidade. Não há pecado na vida quando se aceita que somos seres movidos pela intensidade do desejo. Amanhã haverá mais, porque o desejo é cíclico, infindável, e, após cada queda, levantamos novamente, prontos para sentir.

Mas a culpa… Ah, essa culpa que nos assalta em cada fim, no término de cada momento de êxtase. Ela parece nos lembrar que somos imperfeitos, que carregamos o fardo de viver entre o sagrado e o profano. Porém, a penitência não é se privar, e sim continuar acreditando que a vida impertinente, cheia de altos e baixos, é a verdadeira redenção.

Então, lambe a alma e o corpo mais uma vez. Deixa os pecados se dissolverem no calor teu calor. E eleva-te, ao paraíso que reside em cada instante de entrega.

Essa é a penitência da vida: seguir, sentir, viver.

Lua Felicia

Assista, ouça, vá além dessa poesia de Rodrigo Ciampi e sinta também o que eu senti:

A foto em destaque é de Hakeem James Hausley – Pexels.

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