Para todas as mulheres

Para todas as mulheres

dela, para todas elas

Era mais um dia comum no Ministério da Igualdade Racial quando Anielle Franco, com os olhos marejados e a voz firme, decidiu compartilhar sua história. Não era apenas a história dela, mas a de milhares de mulheres que enfrentam o assédio diariamente nas ruas de nossas cidades. Seu depoimento, carregado de emoção e força, serviu como um catalisador para uma reflexão profunda sobre a realidade que vivemos.

Inspirada por suas palavras corajosas, escrevo, deixando fluir os sentimentos represados por tanto tempo. O resultado foi um manifesto, um grito silencioso que ecoa a experiência coletiva de ser mulher em um mundo que ainda luta para nos respeitar:

Sinto o peso do silêncio que nos envolve, como uma pele invisível. Cada passo na rua é um sussurro de medo, um tremor nas entranhas. Os olhares nos perseguem, nos devoram, nos despem sem tocar. Somos corpos em movimento, objetos de desejo alheio, presas em uma cidade-jaula.

A noite cai como um véu pesado sobre nós. Caminhamos apressadas, chaves entre os dedos, coração acelerado. O medo nos acompanha, fiel companheiro indesejado. Sentimos a fragilidade de nossa carne, a vulnerabilidade de nossos sonhos.

Mas há uma força que pulsa dentro de nós, ancestral e indomável. Somos filhas da lua, herdeiras de feiticeiras e guerreiras. Nossa delicadeza é uma farsa, uma máscara que usamos para sobreviver. Por baixo dela, somos fogo e tempestade.

Desejamos um mundo onde possamos florescer sem medo, onde nossa pele não seja um convite à violência. Ansiamos por ruas onde possamos caminhar livres, sem olhar por cima dos ombros. Sonhamos com noites em que as estrelas sejam nossa única preocupação.

Este corpo, que tanto tentam possuir, é nosso templo sagrado. Nele habitam deusas e demônios, sonhos e pesadelos. Somos mais do que carne e osso, somos histórias vivas, resistência encarnada.

Que o mundo nos veja por inteira, além da superfície frágil. Que nos proteja não por sermos fracas, mas por sermos valiosas. Que nossas filhas cresçam em um lugar onde seus corpos não sejam territórios a serem conquistados.

E se o mundo não mudar por nós, mudaremos o mundo.
Nossa voz, antes um sussurro, se tornará um rugido.
Nossas mãos, antes trêmulas, se tornarão punhos erguidos.
Nosso medo se transformará em fúria criativa, em poder transformador.

Somos muitas, somos uma.
Na solidão de nossas caminhadas noturnas, carregamos a força de todas as que vieram antes.
E nas sombras que nos ameaçam, brilha a luz de um futuro que construiremos juntas, passo a passo, dia após dia, até que a noite não seja mais nossa inimiga, mas nossa cúmplice em liberdade.

As palavras de Anielle Franco e este manifesto inspirado por ela não é apenas um lamento, mas um chamado à ação.
Nos lembra que a luta contra o assédio e a violência de gênero é uma batalha diária, travada nas ruas, nas instituições e em nossos próprios corações.

Este texto é mais do que palavras em uma página.
É um testemunho de nossa resistência, um hino à nossa força coletiva.
É um lembrete de que, juntas, podemos transformar o medo em poder, o silêncio em grito, e a escuridão em luz.

Que este manifesto ecoe pelos corredores do poder, pelas ruas de nossas cidades e pelos corações de todos aqueles que sonham com um mundo mais justo e seguro para todas as mulheres.
A mudança começa com uma voz, cresce com muitas, e se torna irresistível quando nos unimos em um coro de determinação e esperança.

Canção de Mariana Nolasco
“Para todas as mulheres”

1 comments

Por um instante expandi, expandi, alcancei, toquei lá no alto e voltei abstrata. Gratidão por suas palavras cheias de sentido.

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